36. Freitas, Km 106; Silêncio e saudade às margens do Rio Verde.

Dia 13 de agosto de 2023. Um dia mais que especial. Chegamos enfim em Freitas, bairro rural de Soledade de Minas, um dos principais marcos ferroviários do Sul de Minas localizada às margens do Rio Verde.

Antigo armazém da comunidade de Freitas, localizado ao lado do escritório ferroviário. Hoje o armazém encontra-se desativado.  Foto: R. Fraga para o Documentário Memórias de Maria /AGO 2023 

Foto antiga do Km 00 do ramal Campanha. Neste ponto começava o antigo ramal Campanha, onde seriam percorridos 86 Km, cruzando o Circuito das Águas.  Foto: Arquivo público de Minas Gerais.

Estação de Freitas, Km 106 da E.F Minas and Rio. Inaugurada em 1884, foi ponto de Bifurcação para o Ramal Campanha da E.F. Muzambinho.


Freitas, Km 00 (Ramal Muzambinho) e Km 106 da antiga E.F.Minas and Rio. Foto: Projeto Memórias de Maria.

Inaugurada em 1889 a Estrada de Ferro Muzambinho apresentada dois trechos sob concessão; Freitas foi escolhida como Km 00, ponto de bifurcação do braço Campanha da E.F. Muzambinho.

Estação de Freitas, Km 106. À direita a Igreja de Nossa Senhora. Foto: R. Fraga para o Documentário Memórias de Maria /AGO 2023.

O Rio Verde é o marco geográfico identificado como referência na construção da primeira ferrovia que cruzava o Sul de Minas; a Estrada de Ferro Minas and Rio.

Estação de Freitas, Km 106 da E.F. Minas e Rio. As origens de Freitas remontam ao caminho de 170 Km da primeira estrada de ferro que cruzada o Sul de Minas (Cruzeiro-Três Corações). Foto: R. Fraga/Projeto Memórias de Maria.

A estação de Freitas (Km 106) foi inaugurada em 1884 pela Estrada de Ferro Minas e Rio, no percurso Cruzeiro-SP (Km 00) à Três Corações do Rio Verde (Km 170). Havia a expectativa que a E.F Minas e Rio pudesse inaugurar um trecho que iria percorrer o circuito das águas Sul Mineiras, conforme a concessão adquirida em 1888. Freitas foi o ponto escolhido para o ponto de bifurcação sentido Campanha.  A Lei nº 3.397 de 24 de novembro de 1888 trazia os seguintes objetivos:

A construir um ramal que, partindo do ponto mais conveniente de sua linha férrea, e passando ela freguesia de Cambuquira, se dirija à cidade da Campanha na província de Minas Gerais, com sub-ramal que, partindo igualmente do ponto mais conveniente, se dirija a Águas Virtuosas do Lambari. (Relatório do Ministério da Agricultura de 1889, referente ao ano de 1888, seção Estradas de Ferro, p. 293)

Entretanto, em 1889 a concessão foi anulada e passada para a recém-inaugurada E.F. Muzambinho. 

Coube então a E.F Muzambinho implantar um ramal ferroviário, saindo de Freitas, que pudesse atender as expectativas de tantos viajantes que cruzavam as montanhas da mantiqueira e sonhavam com as propriedades medicinais dos Circuitos das Águas.

Lado externo da antiga estação ferroviária. O pátio era o ponto de espera que muitos aguardavam seu trem para a Baldeação. Havia, portanto, ao menos três destinos finais; Campanha, Três Corações ou Cruzeiro.  Foto: R. Fraga para o Documentário Memórias de Maria /AGO 2023


E a velha caixa d`água resiste ao tempo.  Foto: R. Fraga para o Documentário Memórias de Maria /AGO 2023

O Livro de Vasco de Castro cita que os 86 Km da ferrovia até Campanha foram inaugurados até 1895; passando por Jesuânia, Lambari e Cambuquira.

O belo pontilhão Ferroviário de Freitas era o ponto Zero do ramal Ferroviário. A base do pontilhão repousa as margens do Rio Verde. O Sr. Enil Terra citou no grupo da RMV (facebook) que a ponte foi retirada em 1977, cortada com maçarico.

Base do Antigo pontilhão ferroviário que desapareceu em 1977. Aqui repousa o Km 00 do ramal Campanha, prolongado em 1930 pela RMV até São Gonçalo do Sapucaí. Foto: R. Fraga para o Documentário Memórias de Maria /AGO 2023.
A base do antigo pontilhão ferroviário carrega parte da herança ferroviária da região. A ponte certamente foi inaugurada entre 1894 e 1895.  Foto: R. Fraga para o Documentário Memórias de Maria /AGO 2023

Conversamos com alguns moradores de Freitas que contam que a comunidade era bastante frequentada, muitas vezes, por turistas que aguardavam a baldeação com o Trem que seguiria para Cruzeiro ou Três Corações.

Igreja de Nossa Senhora e logo abaixo a Estação Freitas. Os trilhos ainda permanecem em alguns locais, na parte de baixo da Estação. Resquícios da desativação mais recente do trecho Três Corações a Cruzeiro. Foto: R. Fraga para o Documentário Memórias de Maria /AGO 2023.

A igrejinha no alto tem como padroeira Nossa Senhora. Os moradores contam que a primeira igreja, hoje em ruínas, também as margens da ferrovia, era maior e foi transferida posteriormente para próximo da estação.

A antiga igreja comunitária Nossa Senhora, com problemas em sua estrutura foi transferida para perto da comunidade. As ruínas da igreja antiga resistem ao tempo.  Foto: R. Fraga para o Documentário Memórias de Maria /AGO 2023

A ponte da estrada rural que ligava a comunidade de Freitas e Carmo de Minas encontra-se parcialmente submersa. Foto: Agosto 2023. 

Ao lado do local da ponte ferroviária foi construída uma ponte rural que ligava Freitas a Carmo de Minas, mas infelizmente a ponte caiu em 2013 a até hoje é vista sobre as águas. Um acesso alternativo à estrada rural Soledade-Freitas é através da BR-267. O caminho é por Conceição do Rio Verde, sentido Caxambu, até a altura do Restaurante Nova Brescia onde segue por 9 Km, pela estrada do Arenito, até Freitas.

Texto escrito por Ricardo Fraga para o documentário Memórias de Maria.

Veja também: "O ramal Campanha da Estrada de Ferro Muzambinho".

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