11. De Bogari a Francisco Sá, pelos caminhos do ramal Sapucaí.

No dia 07 de maio de 2022 saímos por volta de 09:00 da manhã de Pouso Alegre sentido Borda da Mata. Chegando em Borda da Mata procurei a casa do Sr. José Francisco Salgueiro, morador da casa ao lado da estação ferroviária da Borda da Mata. Eu havia entrevista ele no dia 25 de agosto de 2021 e logo na chegada da casa estranhei pelo fato dele não estar na varanda, como era de costume estar. Fiquei sabendo que ele havia falecido. Tentei conversar com sua filha mas não tive sucesso.

Segui o caminho que ele mesmo havia, em agosto do ano anterior, sinalizado sentido Bogari.

Seguimos sentido Bogari, bairro da Borda da Mata, local em que havia a próxima estação ferroviária. Logo chegando consegui a informação que o Sr. Clóvis Cândido Ribeiro poderia dar informações da localidade. O Sr. Clóvis morava na birfurcação próxima a uma igreja chegando em Bogari. Ele nos recebeu e gravou uma entrevista; disse que ele e seu pai carregavam muito polvilho na localidade e que os trilhos passavam nos fundos de sua casa. Disse que seu irmão poderia contribuir com mais informações.

Chegando ao bairro do Bogari, após percorrer 6 km da estação de Borda da Mata. Na foto o Sr. Clóvis nos recepcionou e disse que tem muitas lembranças da ferrovia na região.

    Estação de Bogari encontra-se no Km 200 do ramal, 6 Km da estação de Borda da Mata. Existem referências que a estação foi inaugurada em 1931. Foto (site) estações ferroviárias.


"Meu pai sempre procurou alguma foto desta estação, pois ele morou nela quando meu avô trabalhou lá, como chefe de estação. O lugar lá era muito movimentado na época da ferrovia, tinha comércio, exportação de ovos, galinhas, porcos. Existia também um moinho que comprava milho dos moradores da região e transformava em fubá. Uma pena não ter sobrado nada dessa época! Essa foto bate corretamente com a descrição que o meu pai fazia do local!" (Texto: Daniel Paiva Santos, em referência a foto da estação de Borary. Daniel é filho de Tarcísio Silva Santos e neto João Silva Santos Junior)

O Senhor José Teixeira Ribeiro, irmão do senhor Clóvis, mora ao lado da única venda na localidade. Ele trouxe informações precisas do local em que se encontrava a antiga estação de Bogari. Sua filha, Sandra Regina Ribeiro Alves, professora, também pode contribuir com muitas informações. Sandra apontou com exatidão o local, na comunidade, em que a linha de trem passava, acima de pontos reforçados de drenagem de água. Sandra disse que o nome Bogari ou Bogarin tem correlação com uma flor, um jasmin.

Sr. José Teixeira sinalizou o local onde ficava a estação de Bogari.

Leito ferroviário na saída da região do Bogari.

Local de passagem do trem, sentido em que cruzava um pequeno pontilhão sobre um córrego local.


Saindo do bairro do Bogari, sentido Francisco Sá. Na foto: meu pai (esquerda), minha mãe (centro), Professora Sandra (direita).

"Eu estava lembrando, mais um pouco sobre o que meu pai contava sobre Bogary. O proprietário da 'venda' como se dizia na época, era seu Augusto Costa. Algo interessante naquele tempo, ele possuía uma 'mini usina' hidroelétrica, que  usava na mesma represa onde funcionava o moinho. Depois que ele encerrava as atividades no moinho fechava-se a represa e deixava enchendo de água e lá pelas 6 horas da noite,  ele ligava a turbina que tocava o gerador. Meu pai dizia que até a água da represa acabar, lá pelas 10 horas da noite, eles tinham luz na estação, uma vez que seu 'Gusto Costa' cedia gratuitamente a energia elétrica para estação. Pois estação de 'roça' antigamente só na base de lampião de querosene, e Bogary tinha esse diferencial em relação a outras estações na área rural iluminação elétrica e a possibilidade de ouvir rádio. Depois de alguns anos seu Gusto Costa, vendeu todas as suas propriedades em Bogary e mudou-se para o Rio de Janeiro." (Texto: Daniel Paiva Santos,  filho de Tarcísio Silva Santos, grande entusiasta da história da ferrovia Sul Mineira).


Seguimos para a localidade de Francisco Sá, local próximo. No alto da serrinha conseguimos a informação que  o leito da ferrovia bifurcava da esquerda para a estrada local. Encontramos o leito e conseguimos voltar por cerca de 500 metros no terreno preciso por onde a ferrovia passava.

Local exato que a estrada de ferro seguia para bifurcar na serrinha no ponto mais alto da região do bairro Serra.

Seguimos para o bairro Serra, local que se encontrava a estação Francisco Sá e logo fomos a Fazenda Santa Isabel. Lá chegando, fomos até a casa do Sr. Mário Serra, que é o atual responsável pela fazenda. Conseguimos a informação que a fazenda foi desmembrada mas que a localidade que se situava a Estação Francisco Sá pertence a propriedade do Sr. Rafael Germiniani. A sede da antiga fazenda Santa Izabel é a localidade que foi ocupada pela família Mazilli.

Antiga casa de uma fazenda que pertencia a propriedade Santa Izabel. Foto autorizada pelo Sr. Mário

A mansão dos Mazillis, segundo o Senhor José Benedito Filho (José Adãozinho), foi ocupada pela família por volta de 1965 após Castelo Branco assumir o poder. A casa tem relação com Ranieri Mazilli que ocupou transitoriamente a presidência da república quando o congresso declarou o cargo vago no período de saída de João Goulart. Não consegui contato com o Sr. Rafael.

Encontrei uma senhora próximo a entrada da Fazenda Santa Izabel, local desmembrado por outros investidores, que se chama Luciana de Paula.        Seu pai, José Benedito Filho (José Adãozinho) é a memória viva das lembranças da ferrovia. Luciana e seu esposo nos mostraram o local exato onde se encontrava a estação ferroviária de Francisco Sá. Nos doou alguns pregos de trilhos.

Os trilhos ainda estão na localidade. É possível encontrar muitos sinais da passagem da ferrovia por esses caminhos. Foto autorizada pela Sra. Luciana.



Foto no Km 209, na chegada do local onde se situava a Estação Francisco Sá, 9 Km após Bogari.

Por fim fomos ao encontro do Senhor José Adãozinho  que nos contou sobre a Lenda do Casaca de Ferro. Existem lendas que existe ouro enterrado na localidade. O Sr. Adãozinho trouxe muitas informações da localidade do bairro da Serra. Ele chegou ao local por volta de 1950, se lembra muito da família Mazilli e da Memória da Ferrovia no local.

Sr. José Benedito Filho (esquerda) trouxe muitas recordações da memória do trem na comunidade.

O Sr. Adãozinho disse que por volta de 3 km após a Fazenda dos Mazilli havia uma parada de nome Santa Izabel, nome do bairro local, que antecedia a chegada a Estação de Ouro Fino.

Parada Santa Izabel, sentido Ouro Fino. Esta seria a localidade do último ponto de parada antes de Ouro Fino.

Observações: Existem alguns historiadores que escreveram alguns livros sobre a passagem do trem na localidade e trazem à tona as origens do município, lendas e contos. Vale a pena procurar pelos escritores Aureliano Leite e Pompeu Rossi (Pompeu Rossi que traz informações, em um livro, sobre a Lenda do Casaca de Ferro).

Por fim tomamos um café da tarde em Ouro Fino e retornamos para Pouso Alegre após mais um dia de aventura pela história.

(Texto escrito/ organizado por Ricardo Fraga para o Documentário Memórias de Maria)

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